Apresentação



O presente blog foi criado em Janeiro de 2005. Está em actualização permanente, tal como o seu autor, que decidiu agora regressar ao estudo do Direito. Tem como linha de orientação não comentar processos ou casos concretos, menos ainda o que tenha a ver com a minha profissão, estando o meu site de Advogado aqui, nele se mantendo o mesmo critério. Estou presente também na rede social Linkedin e no Twitter.

José António Barreiros




Juízes iletrados

Na cidade onde eu nasci, no interior de Angola, o juiz era, muitas vezes, o Relvas, que tinha loja aberta de comerciante. O escrivão, o Pires, ainda era o único que, para além de comer sozinho um cabrito, saberia Direito, porque tinha o «formulário», o mesmo de que eu herdei uma cópia parecida, encadernada a pano, herança do meu pai, solicitador encartado. Advogados havia vários, como é costume, alguns «provisionários», como o velho Barros, de distinta figura e casaquinho branco. Um desses advogados, cabo-verdeano, foi o meu padrinho de baptismo. Tinha um empregado de escritório, negro, que se chamava Gafanhoto e escrevia à máquina como quem tocasse marimbas. Tinha África no sangue, esse escriturário, cada articulado era, nas suas mãos dactilográficas, um batuque forense. Não sei se a Justiça funcionava, mas lá se ia andando. O delegado interino chegou a ser o sobrinho do Relvas. Um dia escapou-lhe num julgamento um «ó tio», ao que o Relvas, severo, respondeu: «aqui não há tio nem meio tio, há o senhor doutor juiz». Dizem-me que pelo Ministério andam agora a pensar numa de juízes sem o curso de Direito. Acho muitíssimo bem, que é para ver se isto passa a andar no «ó tio ó tio»! Dizem-me que em outros países também é assim. E dizem bem! «Em outros países!...

Santos da casa

Dei agora conta que passei o dia do advogado enfronhado nos tribunais, sem dar conta sequer de que era o dia do advogado. Será, como qualquer outra, uma forma de comemorar, como o outro que celebrava a vida, vivendo-a. Só que neste meu caso, uma estranha forma de vida...

Um grande avanço!

O post sobre o primeiro congreso ibero-americano sobre blogs e Direito, a ter lugar em Saragoça de 4 a 6 de Junho vem anunciado no blog «Antígona» com data de 31 de Dezembro de 2006. Percebo que a blogoesfera seja um exercício diário de antecipação, mas tanta! Um abraço de bem-humorada ironia...

A errata

Errei, emendei. Como há leitores daqui que vão lá, ali ficou. A confissão é uma atenuante, dizem-me que muito apreciada. Ei-la, pois.

Advogados na deputação nacional

Na minha opinião o problema não é os deputados serem advogados. O problema é os advogados serem deputados. A advocacia faz-se nos tribunais ou em outros sítios. O Parlamento é para outras coisas, para as quais ser jurista é muito útil, ser advogado é muito equívoco. Quem quiser ser deputado, deixe de ser advogado. É simples e sobretudo higiénico. Sei que há muitos que não vão gostar de ler. Eu também não gosto de os ver.

Vigiar, punir ou enlouquecer

Sete em cada dez prisões estão sobrelotadas. E, no entanto, diz a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, com humor negro, isto já significa uma melhoria. Uma coisa adiantam as notícias: «A prisão com a menor taxa de ocupação é a do Hospital Psiquiátrico de São João de Deus, que apesar de ter uma capacidade para 195 reclusos, apenas detém 19 indivíduos». Percebe-se: a loucura é o sistema prisional comum, o hospital bem pode estar às moscas.

O segredo do Meco

O Bastonário dos Advogados diz que «o segredo de justiça é como impor a toda a gente que ande de smoking mesmo quando vai para a praia». Eu diria de modo diferente: é fingir que andamos todos vestidos de cerimonioso fraque, quando andamos todos mas é em pelota. É que, quanto à tutela de tal segredo, até se lhe vêem os fundilhos...

Um livro, um convite, uma outra pessoa!

Terminado que está mais um livro daquele meu outro eu, com o qual vou sobrevivendo à profissão, permitam-me que vos convide a estarem presentes nas sessões de apresentação da obra, nos dias 16 [em Lisboa], 17 [no Porto] e a 3 de Junho, em Faro. Pormenores podem colher-se a partir deste link. Uma coisa é certa, no meio da narrativa, lá vem um caso judiciário, ainda por cima, uma clamorosa injustiça. Eric Rohmer fez disso tema para o seu último filme. Eu conto a história num dos capítulos do que escrevi. Por falar em contar, não é um romance histórico, é a História a ser contada como se faz nos romances, dizendo-a.

Era só a brincar

Nada tenho contra o Habilus, tenho tudo contra os que o entregam a pessoas com uma formação insuficiente e que fazem o que podem. Mas hoje soube algo que me deixou, agora sim, preocupado! Será que é verdade que graças ao «Habilus» é possível andarem-se a ler os autos uns dos outros, mesmo aqueles que estão em segredo de justiça! Digam-me que é mentira, que a pessoa que mo disse, e que tenho por bem informada, estava só a brincar.

Pouco «habilus»

De repente abri o «Habilus». Eu confesso que nunca tinha aberto o «Habilus». Mas alguém me disse que o «Habilus» era muito útil! E eu lá me convenci e fui ao «Habilus». Ia tendo um ataque fulminante! Descobri que para hoje tinha dez marcações, dez, ao mesmo tempo! Nervoso, folheei a agenda, nada! Em angústia, telefonei para o escritório, idem! Angustiados, varremos os «dossiers», zero! Sabem o que se passava? Havia processos cujos julgamentos tinham sido adiados e que continuavam registados no «Habilus» como sendo neste dia. Havia processos que estavam registados cinco vezes na mesma data! Enfim, uma trapalhada total, disfarçada de boa organização. Tá visto! Eu não quero o «Habilus»! Eu prefiro o «Inabilus».