Para os que não estavam habituados a trabalhar no confinamento das suas residência, a adaptação; para aqueles que não as têm adaptadas a funcionar simultâneamente como local doméstico e de trabalho, adaptação mais difícil ainda, perda de produtividade, stress, dificuldades emocionais de relacionamento.
Para quantos não têm a sua vida profissional digitalizada ou têm de se relacionar com entidades que não o estão, limitação decorrente de ter de gerir o acesso aos suportes tradicionais da documentação.
Como se isto não fosse já preocupante, há as perspectivas realistas sobre o futuro, nomeadamente para os que têm rendimentos obtidos ou por trabalharem para o sector privado ou por conta própria.
A retracção da actividade económica projecta-se a nível financeiro: há encargos que, mesmo adiados, geram responsabilidades na hora de os pagar, há proventos que seguramente só virão muito depois de se chegar ao momento em que se tornam indispensáveis.
Do lado positivo, haverá seguramente uma cultura a interiorizar para aqueles que estão para isso disponíveis ou têm a liberdade de poder organizar o modo como se materializa a prestação do seu trabalho: a adstrição a horário fixo e a local determinado mostrou ser valor relativo que as circunstâncias demonstraram poder transformar-se numa flexibilidade dos vectores de tempo e espaço.
Também pode gerar-se essa positividade aproveitando melhor o tempo agora não despendido em deslocações, fracção que é devorada pelo dispêndio com os encargos domésticos para aqueles que não os tinham, ou com a distracção inerente à domesticidade.
No meu caso por via dos deveres inerentes à profissão a noite e o dia têm-se confundido. Nota-se pelas ausências aqui; o que não se nota é o défice entre o que gostaria de ter feito e o que acabo por ter de fazer. Todos os dias o relógio parece girar mais depressa, em cada dia a dimensão mais estreita.
Corre-se, sim, muito, num espaço cada vez mais confinado e mais fundo, rumo ao indefinido: é a metáfora da toca do coelho no país de Alice.